CAVALEIROS DO TEMPLO


Este blog tem como objetivo único, cooperar em leituras e estudos voltados para o segmento Maçônico, com textos de diversos autores e abordagens diferentes para um único tema.

Por Yrapoan Machado






terça-feira, 29 de março de 2011

O AVENTAL DO APRENDIZ



Em Loja, o Aprendiz Maçon usa um avental retangular completamente branco, com uma aba superior, de forma triangular, igualmente integralmente branca, que é usada levantada. Ensina o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite – aquele que é praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues – que a cor branca do avental simboliza a pureza do seu coração, recomendando ainda ao Aprendiz que evite conspurcar o seu avental.

  
 Em determinada passagem do mesmo Ritual, o Aprendiz é informado de que deve usar o avental com a aba levantada, sem que sejam dadas quaisquer explicações ou justificações para essa determinação. Pese embora o fato de o Ritual apresentar a cor branca do avental de Aprendiz como símbolo de pureza, é minha convicção de que a escolha dessa cor tem uma origem muito mais prosaica. Retenhamos, antes do mais, que a Maçonaria Especulativa, tal como foi fixada no século XVIII, em Inglaterra, deriva de uma Maçonaria Operativa, existente desde, pelo menos, há alguns séculos atrás, que regia o ofício dos construtores em pedra e que agrupava os respectivos profissionais, nas suas diversas vertentes (Mestres de Obras ou Arquitetos, Pedreiros, Canteiros, Escultores, etc.).

 O uso de avental por profissionais de diversas profissões tem origens antigas e permanece actual. Os ferreiros e ferradores usavam avental e, pelo menos aqueles, ainda hoje usam; os cozinheiros usavam e usam avental; os trabalhadores em pedra usavam avental, etc.. O propósito do uso desta peça é evidente: a proteção da roupa envergada pelos respectivos portadores, evitando que esta seja suja ou danificada pelos materiais trabalhados pelo profissional. Naquelas épocas, o nível de vida dos artesãos não era propriamente desafogado. A proteção da sua roupa era-lhes indispensável, o avental de proteção utilizado era confeccionado no material que, exercendo essa proteção, fosse mais abundante e barato.
                               
Os aventais eram, assim, confeccionados na matéria-prima que então abundava na Europa e era barata: a pele de ovelha, com a respectiva lã. A razão porque o avental era branco decorre assim do prosaico fato de a lã ser dessa cor! E obviamente que não se ia encarecer o artefacto tingindo-o, porquanto se tratava de uma peça de trabalho, destinada a ficar suja no decorrer do trabalho, não de uma peça de adorno. Não era apenas o Aprendiz de trabalhador em pedra que usava avental de pele e lã branca. Eram todos os trabalhadores em pedra.
                                                    
Evidentemente que, com a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, a razão do uso dessa peça alterou-se, passando tal uso a ter valor simbólico, primeiro, de distinção de grau, seguidamente, e de adorno finalmente (particularmente nos Altos Graus e em Grande Loja, em que, por vezes, são utilizados vistosos, belos - e caros! - aventais). E, com essa transição, o avental perdeu o seu valor de proteção de vestuário. Daí que, enquanto que, nos tempos da Maçonaria Operativa o avental se destinava a ser sujo em vez da roupa que ele protegia, com o advento da Maçonaria Especulativa essa necessidade desapareceu e, portanto, passou a desejar-se que permaneça sempre limpo, quer material, quer simbolicamente, neste plano representando a pureza de caráter que o seu portador deve ter e que deve procurar sempre, mais e mais, aperfeiçoar.

                                                                             
O avental branco, em bom rigor, não é o avental do grau de Aprendiz: é o avental do maçon! Aliás, ainda hoje, em muitas Lojas dos Estados Unidos é comum entregar-se àquele que é iniciado um avental de pele de ovelha, com lã, branco, o qual é religiosamente guardado e nunca utilizado pelo maçon seu proprietário, a não ser em ocasiões festivas ou cerimoniais. Qualquer que seja o grau de quem o usa, o avental de pele e lã branco é ali utilizado como peça de adorno cerimonial!
              
                                                                                   
Ainda hoje, em todas as Obediências, o avental branco pode ser usado por qualquer maçon, qualquer que seja o seu grau e qualidade. As únicas diferenças são que, por um lado, o Aprendiz só pode usar avental branco, enquanto que os maçons de outros graus podem usar o avental branco ou o do seu grau; e, por outro, que o Aprendiz deve usar o avental branco com a respectiva aba levantada, enquanto que os demais maçons, quando usam avental branco, o fazem com a respectiva aba baixada.
O atual Grão-Mestre da GLLP/GLRP, Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia utiliza habitualmente um singelo, mas belíssimo, avental todo branco, adornado apenas por um discreto bordado, também branco, assim simbolizando que até mesmo o Grão-Mestre se deve sempre considerar um eterno Aprendiz. Quanto à razão do uso do avental com a aba levantada pelo Aprendiz (e aqui, efetivamente, só por este), não explicada ou justificada no ritual, deve buscar-se também nas raízes operativas da Maçonaria e na função de proteção do avental, importadas e adaptadas para a Maçonaria Especulativa. Porque o Aprendiz ainda não é versado nem experiente na Maçonaria, porque é natural que cometa erros, porque ainda está aprendendo a trabalhar a pedra bruta do seu caráter, a sua necessidade de proteção é simbolicamente maior. Daí que deva aumentar a área de proteção proporcionada por essa peça, para tal usando a respectiva aba levantada.
                       
Quando as mais agudas arestas do seu caráter estiverem já trabalhadas, quando esse caráter se tiver já aperfeiçoado e o maçon não o trabalhe já como uma pedra bruta, antes o cinzele como se faz a uma pedra cúbica, então a necessidade de proteção terá diminuído e o maçon poderá então passar a usar o seu avental com a aba baixada. Mas, quando assim for, já, em reconhecimento do esforço que efetuou, os Mestres da Loja providenciaram o seu aumento de salário – e já não será Aprendiz!

BIBLIOGRAFIA
Esta Peça de Arquitetura, foi editada em outubro de 2007 pelo nosso  IR.’. Rui Bandeira, mui digno Mestre da ARL MESTRE AFFONSO DOMINGUES da cidade de Lisboa - Portugal

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