CAVALEIROS DO TEMPLO


Este blog tem como objetivo único, cooperar em leituras e estudos voltados para o segmento Maçônico, com textos de diversos autores e abordagens diferentes para um único tema.

Por Yrapoan Machado






quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O CONGRESSO DE LAUSANNE E A MAÇONARIA ANGLO SAXÔNICA - PARTE II

A segunda edição alterou o artigo primeiro, passando à seguinte redação: “Um Maçom é obrigado na sua dependência a observar a Lei Moral como um verdadeiro Noaquita, e se entendeu corretamente o Ofício, nunca será um estúpido Ateu nem um Libertino irreligioso, nem agirá contra a sua Consciência. Nos tempos antigos os Maçons cristãos eram obrigados a concordar com os usos cristãos de cada país por onde viajavam ou trabalhavam; mas sendo a Maçonaria fundada em todas as Nações, mesmo as que praticam várias religiões, são eles agora unicamente obrigados a aderir àquela religião na qual todos os homens estão de acordo (cada Irmão vivendo em sua própria e particular opinião), que é a de serem homens bons e sinceros, homens honrados e probos, quaisquer que sejam as denominações, religiões ou crenças que possam distingui-los, por estarem todos de acordo com os três grandes artigos de Noé, que são suficientes para preservar o Cimento da Loja. Assim a Maçonaria é o Centro de sua União e o Feliz Meio de conciliar pessoas que teriam ficado perpetuamente separadas". A segunda alteração veio em 1756 com o Ahiman Rezon ou seja, a Constituição da Grande Loja dos Antigos do irlandês Laurence Dermott, na qual se acusava os modernos de haverem omitido as orações, descristianizado o Ritual e ignorado os Dias Santos. Dermott propõe, então, uma verdadeira reafirmação de fé à Santa Igreja, no caso agora a Igreja Anglicana, apesar de propor no Ahiman Rezon uma prece para o cristão diferente da prece para o judeu que fosse iniciando.  O caminho da volta teísta estava sendo remontado e atingirá o seu ápice com a fusão em 1813 da Grande Loja dos Antigos com a Grande Loja dos Modernos, dando início, assim, à Grande Loja Unida da Inglaterra. A Constituição de Anderson de 1815 será marcadamente teísta, como se verá a seguir:                                                      
“Um Maçom é obrigado, por seu título, a obedecer à lei moral e, se compreender bem a Arte, nunca será ateu estúpido, nem libertino irreligioso. De todos os homens, deve ser o que melhor compreende que Deus enxerga de maneira diferente do homem, pois o homem vê a aparência externa ao passo que Deus vê o coração. Um maçom é, portanto, particularmente compelido a nunca atuar contra os ditames de sua consciência. Seja qual for a religião de um homem, ou sua forma de adorar, ele não será excluído da Ordem, se acreditar no glorioso Arquiteto do Céu e da Terra e se praticar os sagrados deveres da moral...”. A posição da Grande Loja Unida da Inglaterra pode ser sintetizada da seguinte forma: durante um período relativamente curto - entre o final do século XVIII até 1835 - quase toda referencia cristã foi expurgada dos manuais e rituais ingleses - como foi exaustivamente demonstrado por N. B. Cryer - ao mesmo tempo, e talvez como uma compensação, o teísmo passa a dominar o coração e as mentes da maçonaria inglesa. Se o retorno teísta conseguiu cimentar a maçonaria inglesa, no continente causou um retrocesso à visão liberal e à tolerância religiosa contidos na primeira Constituição de Anderson. Assiste-se, daí em diante, a um embate entre o dogmatismo teísta inglês contra os deístas livres-pensadores franceses e belgas. O cobertor era por demais curto. Se, por um lado cobria a ruptura inglesa, por outro, desencadeia o cisma francês. Assim, o Grande Oriente da França, em seus primeiros ‘Estatutos e Regulamentos Gerais’, de 1839, não faz nenhuma referência a Deus e à religião. Em 1849, alguns elementos do Grande Oriente da França, pretendendo um estreitamento de relações com a Grande Loja Unida da Inglaterra, elaboraram uma Constituição com cláusulas que exigiam a crença em Deus e a imortalidade da alma, mas com a recomendação de se respeitar a consciência individual. A supressão do artigo teísta deu-se em 1877, no GOF, quando o pastor Desmons, com a presença de 210 lojas, conseguiu o apoio de 2/3 para retirar a obrigação das lojas de trabalhar à Glória do Grande Arquiteto do Universo. Estava declarada a guerra maçônica entre a França e a Inglaterra que dura até os nossos dias. A Grande Loja Unida da Inglaterra declarou irregular tanto o GOF quanto a Grande Loja da França. Somente em 1911, com a fundação da Grande Loja Nacional Francesa - GLNF, a maçonaria inglesa deu foros de regularidade a uma instituição maçônica francesa. Para a grande parte da maçonaria mundial o que vige é a Constituição de 1815 da Grande Loja Unida da Inglaterra.                           
O Congresso de Lausanne também pagou o seu preito à querela do GADU. Esse Convento, que foi a primeira tentativa de os Supremos Conselhos do R.E.A.A. tentarem uma certa unificação ritualística e a montagem de uma confederação dos Supremos Conselhos que, por sinal não vingou, aconteceu em 1875, dois anos antes do cisma francês cujo clima ainda permitia certo compromisso pré-ruptura. Houve a participação de onze Supremos Conselhos dos seguintes países: Inglaterra (e País de Gales), Bélgica, Cuba, Escócia, França, Grécia, Hungria, Itália, Peru, Portugal e o anfitrião Suíça. O Brasil, apesar de ter um dos mais antigos Supremos Conselhos do mundo, infelizmente não se fez presente. O Congresso de Lausanne havia que definir os princípios do R.E.A.A., em particular, o símbolo fundamental do G.A.D.U. Contrapunham-se, então, duas tendências: i) a tradição da Ordem: espiritualista e cristã contra ii) uma visão da época: liberalista e cientificista. Tentou-se, enfim, estabelecer um compromisso conforme pode se ler tanto no Tratado quanto na Declaração de Princípios e no Manifesto.
No Tratado, o pêndulo oscilava para o deísmo, no seu artigo 1º:
“A franco-maçonaria é uma instituição de fraternidade universal cuja origem remonta ao berço da sociedade humana; ela tem por doutrina o reconhecimento de uma força superior que ela proclama sob o nome de Grande Arquiteto do Universo;”
Na Declaração, assiste-se a uma proposição mais espiritualista:
“A franco-maçonaria proclama, como ela tem proclamado desde a sua origem, a existência de um princípio criador sob o nome de Grande Arquiteto do Universo”.
Quanto ao Manifesto, reconhece-se, sem ambigüidade, o caráter pessoal do Grande Arquiteto do Universo: “Para elevar o homem a seus próprios olhos, para torná-lo digno de sua missão sobre a Terra, a Maçonaria coloca o princípio que o Criador Supremo deu ao homem, como bem mais precioso, a liberdade; a liberdade, patrimônio da humanidade inteira, raio do alto que nenhum poder tem o direito de apagar nem amortecer e que é a fonte dos sentimentos de honra e de dignidade”.  desenrolar do Conclave começou a complicar, quando na sessão do dia 9, o representante dos Supremos Conselhos da Escócia e da Grécia – Irmão Mackersy - declarou que teria que retornar ao seu país. No dia 13 de setembro, endereçou um comunicado ao Convento informando que não poderia, em nome dos Poderes que representava, dar sua aprovação à Declaração de Princípios, pois os dizeres lhe pareciam pouco espiritualistas, sobretudo a definição reservada ao G.A.D.U. 
Força Superior, Princípio Criador - expressões que não condiziam com a crença num Deus pessoal. Curioso é que o Supremo Conselho da Inglaterra enviou uma circular, em 26 de maio de 1876, aos seus corpos subordinados, assinado pelos seus dois representantes no Conclave de Lausanne, contendo uma admoestação ao delegado escocês dizendo que se ele tivesse ficado até o final não teria feito a declaração de que o Conclave usou expressões que não se coadunavam com um Deus pessoal. Pelo contrário, o ponto que o Conclave mais fortemente insistiu foi o de colocar, como princípio absoluto e fundamental do R.E.A.A., a crença na personalidade de Deus como o Autor, o Criador, o Criador Supremo, o Grande Arquiteto do Universo, o Ser Supremo! Em 1877, o Grande Oriente de França suprimiu, para as suas lojas, a obrigação de trabalhar à “Glória do Grande Arquiteto do Universo” e teve início o cisma que separou, radicalmente, a maçonaria francesa da inglesa. Apesar de o R.E.A.A. sempre ter mantido a sua filiação cristã e rejeitado terminantemente a inovação do G.O.F. assiste-se a um distanciamento da maçonaria anglo-saxônica que propunha um Deus Pessoal dos cristãos e dos judeus ao invés de um impessoal Princípio Criador. Sem se ater ao radicalismo do GOF, a proposição de Lausanne estava mais para o Anderson de 1723 do que o de 1738. A tendência moderna é que se dê razão às proposições de Lausanne. Alex Horne chega a afirmar que saber se Deus seja visto como um Deus Pessoal ou um Princípio ou Força Criadora impessoal deve ser um questão de escolha pessoal, seja de um indivíduo ou de um grupo.  Quem considera que são ateus aqueles que reduzem Deus a um Princípio Criador impessoal - e esta é a posição de Pike - não deveria, por coerência, aceitar que os budistas pudessem ser iniciados na maçonaria. E, pelo que se sabem os budistas nunca foram impedidos de se tornarem maçons.
A querela do G\A\D\U\ teve uma conclusão provisória em 1877 pela reunião em Edimburgo dos Supremos Conselhos da Escócia, da Grécia, dos EEUU (Jurisdição Sul), da Irlanda e da América Central. Tendo em vista o Cisma francês, estes últimos demandaram que a interpretação dada pelo Supremo Conselho da Inglaterra à definição do G\A\D\U\ fosse reconhecida pelo conjunto dos Supremos Conselhos Confederados em Lausanne. Após uma troca de notas, os dois grupos - o de Edimburgo e os restantes - e sob a pressão conciliadora do Supremo Conselho da Suíça, cedeu-se às exigências do grupo de Edimburgo, afim de realizar a unidade do escocesismo. A querela, pois, ainda não terminou. Deísmo, teísmo, descristianização, etc. são termos que tenderão a manter a polêmica na maçonaria por um longo tempo. Em suma, Lausanne mantém a tradição cristã  do R.E.A.A. nos seus diversos graus, mas, em termos de princípios, caminha para uma posição conciliadora entre o  deísmo e o teísmo.
V - CONCLUSÃO    
A principal conseqüência positiva do Conclave de Lausanne foi a de abrir as reuniões periódicas de grande parte dos Supremos Conselhos, chamados daí por diante de Conferências. Os únicos Supremos Conselhos que não aderiram a estas Conferências foram os da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda. Na Conferência de Bruxelas de 1907, participaram 20 Supremos Conselhos, incluindo as duas Jurisdição dos EEUU, e muitos entendimentos foram alcançados mais por consenso pragmáticos do que por força de texto legal. Estabeleceu-se a liberdade de cada Supremo Conselho adotar a versão revista das Constituições de 1786 como proposta em Lausanne. Foram publicadas versões de Lausanne em francês, principalmente na Bélgica, havendo, contudo, um desconhecimento do Conclave por parte dos países de língua inglesa, a não ser por aqueles comentários de Albert Pike sobre a querela do GADU. No geral, a maçonaria norte-americana desconhece completamente Lausanne. Os principais pontos do Conclave foram a revisão das Constituições de 1786, geralmente aceitas hoje em dia e a proclamação de um Princípio Criador chamado GADU. O Princípio Criador permeia, até hoje, os principais documentos do GOB e do Supremo Conselho. O art. 2º da Constituição do GOB reza o seguinte: Um dos principais pontos do Conclave foi a proclamação de um Princípio Criador chamado G.A.D.U. O Princípio Criador permeia, até hoje, os principais documentos do GOB e do Supremo Conselho do Brasil para o R.E.A.A. O art. 2º da Constituição do GOB reza o seguinte: 
“São postulados universais da Instituição Maçônica:
I - a existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto do Universo”.
Os Estatutos do Supremo Conselho do Brasil para o R.E.A.A. afirma o seguinte, no seu preâmbulo: Sua doutrina, que tem por base as Grandes Constituições de 1786 e os Regulamentos Gerais de 1762, é fundamentada na hierarquia de 33 (trinta e três) graus, com o objetivo de desenvolver entre os maçons os seguintes princípios: 1) a existência de um Princípio Criador, o Grande Arquiteto do Universo... Outro ponto importante foi que o Conclave permitiu a todas as jurisdições do Rito Escocês ter idênticas Constituições apesar da diferença de rituais. O consenso não foi estabelecido em torno dos três primeiros graus: graus vermelhos ou azuis? E aqui a divisão ficou entre os latinos e os anglo-saxônicos: os latinos usando o avental vermelho do Mestre Maçom e os anglo-saxônicos continuando com os seus aventais azuis. O Brasil seguiu a tendência anglo-saxônica, a partir da ruptura de Bhering em 1927, tanto no GOB quanto nas Grandes Lojas. O Monitor (Tuileur) Escocês, editado em 1876 pelo Supremo Conselho da Suíça não teve nenhum caráter obrigatório. Documento único de referências, preciso e completo, fez diversas e, em alguns casos, profundas alterações no tocante à tradição dos graus escoceses. Desnecessário dizer que o Monitor coloca o avental maçônico do Mestre Maçom na cor do rito, isto é, vermelho. Um ponto também de suma importância foi que os corpos presentes ao Conclave seguiram a definição deística do GADU mais como um Princípio Criador do que como um Ser Supremo. Dizem que o mote - Ordo ab Chao - foi reforçado em Lausanne para simplesmente expressar o alívio dos delegados por terem conseguido colocar alguma ordem no caos que reinava antes no R.E.A.A.
Os maçons ibero-americanos assim como os franceses tinham uma longa história de perseguição por parte da Igreja Católica e, portanto, estavam desejosos de um vago requerimento “deístico” que os colocasse em guarda frente às atitudes anti-clericais prevalecentes então naqueles tempos. De um ponto de vista sul-americano e, principalmente, brasileiro, o Conclave de Lausanne representou um marco referencial. Desde 1875 o R.E.A.A., aceitando francamente princípios mais democráticos e realizando as reformas que exigiam o estágio da nossa civilização, deixou de ser o que tinha sido até aquele momento, isto é, uma associação mística, eminentemente aristocrática e autoritária, que se intitulando maçônica, colocava-se freqüentemente em oposição aberta aos reais princípios sustentados pela verdadeira maçonaria. Lausanne representou, mesmo que isto ainda não tenha aportado no Brasil, um verdadeiro espírito filosófico que tinha vindo para substituir a até então vigente massa informe de doutrinas místico-religiosas e de lendas jesuítico-templárias de todo gênero que, durante muito tempo, desviaram as inteligências maçônicas de seu verdadeiro caminho da Arte Real. Já não existe no R.E.A.A. um Poderoso Soberano Grande Comendador absoluto e eterno ditando regras absolutas para serem cumpridas por um bando de carneiros amestrados. Trata-se, agora, de fazer com que este sopro democrático lançado em Lausanne prossiga, oxigenando as estruturas dos Supremos Conselhos de todo o mundo. Neste limiar do século XXI, a Internet poderá ser um instrumento poderosíssimo para dar um sentido mais participativo ao R.E.A.A.
Se a sociedade do século XVIII era analógica, supersticiosa e religiosa e a nossa sociedade é mais analítica, racionalística e agnóstica no dizer de Michel Brodsky ex-venerável da Loja de Pesquisa Quatuor, Coronati, a nosso ver, Lausanne está mais para a sociedade moderna do que para a tradicional, pois começa desmistificando a lenda de ter Frederico II redigido as Grandes Constituições do R.E.A.A.; propõe uma visão moderna do G.A.D.U. e busca uma certa unidade na diversidade então vigente.
Bibliografia
Texto extraido da Wikipédia - Enciclopedia livre
UM BEIJO NO SEU CORAÇÃO

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