CAVALEIROS DO TEMPLO


Este blog tem como objetivo único, cooperar em leituras e estudos voltados para o segmento Maçônico, com textos de diversos autores e abordagens diferentes para um único tema.

Por Yrapoan Machado






quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL - Capítulo I

A História da nossa Independência está intimamente ligada com a Fundação do Grande Oriente do Brasil, Obediência Mater da Maçonaria Brasileira. 
Apesar do farto material documental existente, pouco se publica sobre o papel importante, decisivo e histórico que a Maçonaria, como Instituição, teve nos fatos que precipitaram a proclamação da Independência.
Deixar de divulgá-los é ocultar a verdade e conseqüentemente ocorrer no erro da omissão, que nem a História e nem o tempo perdoam, principalmente para com aqueles nossos Irmãos, brava gente brasileira, que acreditavam, ou ainda mais, tinham como ideário de vida a Independência da Pátria tão amada.
O Objetivo principal, sem dúvida nenhuma, da criação do Grande Oriente, foi engajar a Maçonaria na luta pela Independência Política do Brasil.
Desde sua descoberta em 1500, o Brasil foi uma Colônia Portuguesa, sendo explorada desde então pela sua Metrópole. Não tinha, portanto, liberdade econômica, liberdade administrativa, e muito menos liberdade política.
Como a exploração metropolitana era excessiva e os colonos não tinham o direito de protestar, cresceu o descontentamento dos brasileiros.
Inicia-se então as rebeliões conhecidas pelo nome de Movimentos Nativistas, quando ainda não se cogitava na separação entre Portugal e Brasil. Estampava-se em nosso País o ideal da liberdade. A primeira delas foi a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão.
No início do século XVIII, com o desenvolvimento econômico e intelectual da colônia, alguns grupos pensaram na Independência Política do Brasil, de forma que os brasileiros pudessem decidir sobre seu próprio destino. Ocorreu, então, a Inconfidência Mineira (1789) que marcou a história pela têmpera de seus seguidores; depois a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), todas elas duramente reprimidas pelas autoridades portuguesas. Em todos estes movimentos a Maçonaria se fez presente através das Lojas Maçônicas e Sociedades Secretas já existentes, de caráter maçônico tais como: "Cavaleiros das Luz" na Bahia e "Areópago de Itambé" na divisa da Paraíba e Pernambuco, bem como pelas ações individuais ou de grupos de Maçons.
                                                                             
I – ANTECEDENTES – As Cortes de Lisboa
                                           
A 16 de dezembro de 1815, precisamente no dia do aniversário de Dª. Maria I, que estava louca, foi o Brasil elevado a Reino, através da régia carta de D. João VI, assinada no Palácio do Rio de Janeiro, e cujos dois principais artigos estabeleceram:
1) “ Que os meus Reinos de “Portugal”, “Algarves” e do “Brasil” formem d´ora em diante um só e único  Reino, debaixo do Título de REINO UNIDO DE PORTUGAL, DO BRASIL E DE ALVARAVES”;
2) “Que os títulos inerentes à Coroa de Portugal, e de que até agora hei feito uso, se substituam em todos os Diplomas, Cartas de Lei, Alvarás, Provisões e Atos Públicos pelo novo Título de – PRÍNCIPE REGENTE DO REINO UNIDO DE PORTUGAL, DO BRASIL E DE ALVARAVES”, daquém e dalém Mar, em “África de Guiné” e da “Etiópia”, “Pérsia” e “Índia”.
Com efeito, o Brasil prosperava a olhos vistos. Sua grande riqueza natural determinava o célere progresso, uma ascensão vertiginosa entre as demais nações, contrastando com o notório estacionamento, senão declínio de Portugal.
Por isso, depois da volta de D. João a Lisboa, ampliou-se a política de reação a tudo quanto se tinha fundado no Brasil. A permanência de D. Pedro no Rio de Janeiro decepcionou a Assembléia das Cortes, que esperava o retorno de toda a família real e o conseqüente abandono da terra brasileira ao Governo das Juntas Provinciais, cuja formação era ruidosamente promovida em Lisboa.
Pressentiam os portugueses que o engrandecimento do Brasil ocasionaria sua inevitável emancipação política, o que seria de  resultados desastrosos para a Metrópole, que tinha nesta opulenta colônia seu maior sustentáculo econômico. Com essa clara visão do futuro, resolveram as Cortes empenhar-se em inglória batalha, no sentido de fazer o Brasil regredir, para enfraquecer-lhe o nacionalismo crescente.
As Cortes eram constituídas de 181 deputados, dos quais 72 apenas do Brasil e destes somente 46 estavam empossados. A disparidade era mais espantosa ao ter-se em conta que a população do Brasil já era maior que a de Portugal.
Descriteriosamente, porém, na sede do Reino, o total de habitantes do Brasil era considerado com base num censo realizado em 1800, antes da vinda da família real.
Afinal, em 29 de setembro de 1821, aprovaram-se os Decretos nºs 124 e 125.
O primeiro extinguia os governos provinciais independentes, restabelecendo as juntas provisórias de governo com “toda a autoridade e jurisdição na parte civil, econômica, administrativa e de polícia”, ficando subordinados às juntas “todos os magistrados e autoridades civis”. O segundo, como ponto nevrálgico, determinava o imediato regresso a Portugal do Príncipe D. Pedro.
O historiador português ROCHA MARTINS, em “A independência do Brasil”, sintetiza o fato: “Era uma situação singular de regresso ao período colonial, uma medida irritante, despótica, só própria para ferir as suscetibilidades brasileiras”.
Certamente, afigura-se o golpe na unidade do Brasil, com seu esfacelamento em várias províncias. A reação brasileira foi imediata, a partir de seus deputados em Lisboa, os quais, tendo à frente o Maçom Cipriano José Barata, lançaram-se em acirrados debates com os representantes portugueses, que procuravam esmagar pela quantidade os brasileiros. Simultaneamente, aqui, a Maçonaria inflamava o movimento emancipador, fazendo agigantar-se a consciência nacional e despertar o anseio já incontido de ver surgir um Brasil livre.
Nos redutos maçônicos, particularmente na Loja “Comércio e Artes”, que se reinstalara em 24 de junho daquele ano (1821), intensificou-se o trabalho pela organização, no reino ultramarino, de um governo livre e independente, sob a regência do Príncipe D. Pedro, que por influência dos maçons se rebelara contra os Decretos 124 e 125.
II –O CLUBE DO -"O FICO"                                                                                  

 Naqueles três meses seguintes, tal era o burburinho da nacionalidade que o Intendente-Geral da Polícia, João Inácio da Cunha, comunicou-se com o Ministro do Reino, por ofício de conteúdo sigiloso, informando-lhe da impossibilidade de agir com as tropas de que dispunha, pois estavam os seus integrantes, na maioria, filiados à Maçonaria. E terminava o ofício com o seguinte enunciado: “... o movimento da Independência é por demasia generalizado pela obra maldita dos maçons astuciosos, sob a chefia de GONÇALVES LEDO”.

Do Grupo de Gonçalves Ledo, entre outros, faziam parte, destacadamente, o Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira, Frei Francisco de Santa Teresa Sampaio, José Domingos Ataíde, o coronel Francisco Maria Gordilho de Barbuda e o Capitão-mor José Joaquim da Rocha.
Núcleo da idéia de emancipação, a Loja “Comércio e Artes”, sob a liderança de Gonçalves Ledo, trabalhava infatigavelmente. Desponta, no entanto, um ardoroso patriota e maçom, o Capitão-mor José Joaquim da Rocha, e planeja o empreendimento de que resultou “O FICO”, definitivo ato de rebeldia de D. Pedro contra as Cortes de Lisboa, que insistiam em seu retorno a Portugal.
Os malsinados decretos das Cortes chegam ao Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro pelo bergantim de guerra “Infante D. Sebastião”. Precisamente nesse dia, José Joaquim da Rocha funda em sua casa o “CLUBE DA RESISTÊNCIA”, tendo como companheiros Frei Francisco de Santa Teresa Sampaio, consagrado orador da época, Antônio Menezes de Vasconcelos Drumonnd, Joaquim José de Almeida, Luiz Pereira da Nóbrega e Francisco Maria Gordilho de Barbuda. O Clube visava, precipuamente, projetar com segurança a adesão de D. Pedro ao movimento nacionalista.Para evitar a vigilância da Polícia, reuniam-se na residência de José Joaquim da Rocha, na Rua da Ajuda, e muitas vezes na cela de Frei Sampaio, no Convento de Santo Antônio, onde se realizavam verdadeiras sessões maçônicas.
José Joaquim da Rocha considerou necessária a adoção de três providências para o êxito da empresa:
1) Consulta Dr. Pedro sobre o movimento e sentir sua receptividade;
2)Convite para a adesão de José Clemente Pereira, então Presidente do Senado da Câmara;
3) Envio de emissários a São Paulo e Minas.Gordilho de Barbuda, que era camareiro de D. Pedro, foi incumbido de auscultar a opinião do Príncipe. Recebendo a proposta com hesitação, o que era justo, em fase da grave atitude de rebeldia que ia adotar, não tardou muito a resposta de D. Pedro, que assim se expressou: “No caso de virem as representações, pedindo-me para não partir, ficarei”.
Exultante, Barbuda apressou-se em ir à casa de José Joaquim da Rocha para transmitir-lhe a resposta de D. Pedro. Encontravam-se lá os maçons Vasconcelos de Drumonnd, José Joaquim de Almeida, Luiz Pereira da Nóbrega e José Mariano de Azevedo Coutinho. Ante as manifestações de júbilo de todos, José Mariano foi incumbido de solicitar o apoio de José Clemente Pereira
                                                                            

Continua no próximo capítulo....

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